Christiane Torloni faz 60 anos e é Maria Callas no Theatro Pedro II - Juliana Rangel

Christiane Torloni faz 60 anos e é Maria Callas no Theatro Pedro II

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Christiane Torloni é Maria Callas no Theatro Pedro II neste final de semana – de 16 a 18 de fevereiro, em Ribeirão Preto. O espetáculo será ainda mais especial para atriz. Além de interpretar uma das personagens que fez história no teatro, ela também irá comemorar 61 anos no palco, neste domingo. Na entrevista ao portal, Christiane fala da carreira e desse universo de “Master Class”, que vem percorrendo o Brasil.

Juliana Rangel: Como a personagem Maria Callas surgiu na sua vida?

Christiane Torloni: O processo de interpretação da Callas é o desdobramento de um grande processo de pesquisa que o José Possi e eu estamos fazendo há mais de 30 anos. Teve um momento, mais ou menos 15 anos atrás que nós nos debruçamos na Callas. É muito incrível porque quando você se aproxima da Callas, a história dessa mulher é uma história de superação, desde o nascimento dela, pois ela foi recusada pela mãe nos primeiros dias. Então, esse é um espetáculo para você se apoiar em alguém que, mais do que tudo, não desistiu do seu belo.

E como foi para você se preparar para interpretar essa atriz e também musicista, que fez história no teatro?

Me preparo com muito rigor e concentração. É um trabalho que exige uma precisão danada, que vai além da dança. Tenho uma preparadora física, assim como os outros cantores.

Você não canta no papel de Maria Callas, mas precisou de alguma preparação especial?

Eu fiz aulas de canto. Mesmo que você nunca cante em um musical, é importante para formação. Inclusive para entender o universo das orientações que ela traz aos cantores. Com meu professor no Rio de Janeiro comecei a estudar pela Ária de Amina – personagem de Callas na ópera “La Sonnambula” – para poder entender em mim mesma o que ela faz, o quão difícil é o que ela faz. Você se apropria. Você vai fazer um pianista, você tem que entender o universo, mesmo que não vá tocar. Entender mentalmente, entender emocionalmente, porque isso muda a atitude física completamente.

Você considera um desafio interpretar Callas, já que essa produção foi um dos maiores sucessos da Broadway?

É um desafio. Mas mais do que a responsabilidade de fazer um espetáculo da Broadway, é a responsabilidade de fazer um papel que já foi vivido no teatro pela Marília Pêra, uma das nossas maiores atrizes. O texto que eu uso é o da Marília. Ela foi de uma generosidade imensa. Vimos com uma benção. A Marília dirigiu o primeiro espetáculo que eu fiz no teatro, que também foi a estreia dela na direção. Eu sinto uma passagem de bastão aí, que nem às vezes sinto na televisão. Você começa a herdar papéis, e isso é muito bonito.

A Christiane Torloni se identifica em algum momento com Maria Callas na vida real?

Tem uma questão, talvez seja o que mais me inspire, é que ela não tinha uma relação com alguém que a desafiasse. Era Callas que desafiava Callas. Isso é uma outra maneira de ver tudo. A maioria das pessoas tem o desafio de fora para dentro. Ela não, vinha de dentro dela.

Como o público vem reagindo à peça nas cidades por onde passa?

As pessoas voltam ao teatro, assistem ao espetáculo mais de uma vez. A peça tem um texto lindo e sempre digo que esse espetáculo é uma sessão de autoajuda disfarçado. Ele fala muito em superação e as pessoas saem muito motivadas a se apaixonar, acreditar nos seus sonhos. Ele também tem um humor muito refinado que provoca as pessoas na plateia.

As sessões também vêm com preços bem populares, o que dá oportunidade de mais acesso a espetáculos de renomes como esse. Como você avalia esse acesso hoje em dia?

Acho que nosso público está tendo cada vez mais acesso a tudo, de alguma maneira está se tornando um público melhor. Quer dizer, em termos. A gente tem menos acesso à educação, culturalmente o país está mais pobre, logo os papéis também deveriam estar. Na contramão dessas questões estatísticas, você vê os teatros, principalmente os musicais, fazendo grandes carreiras. A gente estava falando muito de alguns espetáculos, uma tragédia e um drama, indo muito bem. Então isso significa que uma plateia que está sendo cultivada. E isso é maravilhoso. Meu público é a biodiversidade brasileira. Você vai construindo uma carreira tão eclética e as pessoas te seguem mesmo assim.

Você vem de um berço artístico e levou isso não só para o teatro, mas também para a TV. Nesses quarenta anos de carreira, qual o papel que mais gostou de interpretar?

Meus pais, os atores Geraldo Matheus e Monah Delacy, são fundadores do Teatro de Arena. Minhas primeiras babás eram as camareiras. O teatro foi meu primeiro playground. São muitos papéis marcantes: a Dinah de ‘A Viagem’, fui Helena de Manoel Carlos em ‘Mulheres Apaixonadas’, vivi a Tereza Cristina em ‘Fina Estampa’…

Você segue viajando o Brasil com Master Class, mas também já está confirmada na próxima novela das 19h, da Rede Globo. Dá para conciliar os dois?

Quando começarem as gravações da novela ‘Verão 90 Graus’, a turnê de ‘Master Class’ já terá acabado.

Quando começam as gravações?

As gravações devem acontecer no fim de outubro.

Você já esteve em Ribeirão Preto com outras peças. Este retorno é mais especial? afinal vai comemorar 61 anos no palco…

Este é um retorno especial porque Ribeirão Preto é uma cidade especial. Os ribeirão-pretanos sempre me receberam de braços abertos e tenho certeza que no dia do meu aniversário não será diferente!

Fotos: Marcos Mesquita