Entrevista: Pandemia traz medo e procura por diagnósticos e cirurgias de câncer diminui no Brasil - Juliana Rangel

Entrevista: Pandemia traz medo e procura por diagnósticos e cirurgias de câncer diminui no Brasil

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O período de pandemia fez o cenário de diagnóstico e tratamento contra o câncer mudar no Brasil. Isso é o que mostra uma estimativa das Sociedades Brasileiras de Patologia (SBP) e de Cirurgia Oncológica (SBCO) que aponta que, apenas no mês de abril, 70% das cirurgias oncológicas foram adiadas. Além disso, ao menos 50 mil brasileiros deixaram de ser diagnosticados com câncer, devido a não realização de exames essenciais para identificar a doença.

Para entender melhor esse cenário, o portal conversou com o diretor técnico do InORP Oncoclínicas Ribeirão Preto, Diocésio Alves Pinto de Andrade. Na entrevista a seguir, ele fala da preocupação com essa diminuição na procura por tratamentos e diagnósticos da doença, já que é tão grave quanto a Covid-19, além de reforçar o que tem sido feito para mudar essa situação.

De acordo com o Centro Internacional para Pesquisa do Câncer (IARC) – agência especializada da Organização Mundial de Saúde (OMS) – o câncer afeta 1,3 milhão de brasileiros e corresponde à realidade de 43,8 milhões de pessoas pelo mundo.

Diocésio Alves Pinto de Andrade, diretor técnico do InORP Oncoclínicas Ribeirão Preto
Foto: divulgação InORP

Juliana Rangel: Como o período da pandemia refletiu no tratamento de câncer?

Diocésio Alves Pinto de Andrade: Este momento está sendo debatido desde o início da pandemia. Após mais de quatro meses desse cenário, temos agora dados comparativos e esta é uma discussão constante em nossas reuniões semanais com o Grupo Oncoclínicas. Sabemos também desse impacto pelo baixo número de casos novos que os cirurgiões que nos encaminhavam têm nos enviado. Mesmo tendo o Ministério da Saúde incluído o câncer no rol de doenças, cujo tratamento não pode ser considerado eletivo, desde o início da pandemia, há registros que mostram números preocupantes sobre o adiamento de cirurgias e de exames diagnósticos da condição, o que pode afetar diretamente as chances de cura.

Uma estimativa das Sociedades Brasileiras de Patologia (SBP) e de Cirurgia Oncológica (SBCO) aponta que, apenas no mês de abril, 70% das cirurgias oncológicas foram adiadas. Além disso, ao menos 50 mil brasileiros deixaram de ser diagnosticados com câncer devido a não realização de exames essenciais para identificar a doença.

As pessoas deixaram de ter diagnóstico por medo ou por conta da redução no atendimento?

Com certeza pelo receio da pandemia. No InORP Oncoclínicas, por exemplo, não adiamos nenhum tratamento vigente, seja da oncologia clínica, seja da hematologia. Houve sim, uma readequação na agenda dos médicos para as consultas de seguimento nas primeiras quatro semanas da pandemia para que diminuíssemos o fluxo de pacientes na clínica. Neste período avaliamos exames à distância destes pacientes e fizemos contato por telefone ou via telemedicina. Passado o período inicial e entendo um pouco melhor da Covid-19, voltamos a agendar essas consultas presencialmente na dependência do desejo do paciente, seguindo com os rígidos protocolos de segurança.

O que o InORP tem feito para reverter esse quadro?

O InORP Oncoclínicas segue rígidos protocolos de segurança, contando com infraestrutura completa, com suítes individualizadas para atendimento seguro de seus pacientes. Além disso, incorporamos novas medidas como triagem feita por telefone para agendamento e avaliação de possíveis pacientes e acompanhantes com sintomas; redução de fluxo na recepção com horários agendados de forma mais espaçada, permissão de um acompanhante por paciente, distanciamento adequado de cadeiras na sala de espera e uso da telemedicina como ferramenta. Presencialmente, tanto a equipe de colaboradores como pacientes passam por triagem para entrada no local.

Uma opção é a telemedicina. Como é feita?

A modalidade é usada para atendimento pré-clínico, de suporte assistencial, de consulta e acompanhamento, com atendimento médico feito à distância, por meio de tecnologia da informação e comunicação. A telemedicina com certeza é uma nova ferramenta que pode auxiliar num primeiro contato com o paciente que está receoso de ir até ao consultório, porém ela de forma alguma substitui a necessidade do exame do médico. Eu vejo a telemedicina muito mais como ferramenta de acompanhamento do que de um possível diagnóstico à distância numa primeira consulta.

E a campanha “O Câncer Não Espera. Cuide-se Já” que foi lançada para reverter essa situação, tem funcionado?

A Campanha foi lançada para levar informações aos pacientes e familiares que não podem aguardar a resolução da pandemia –  situação que está longe de se normalizar –  para que possam procurar ajuda para outros problemas de saúde, ainda mais se tratando de câncer. Todos os cuidados estão sendo tomados para diminuir a possibilidade de contágio. Adiar o tratamento pode prejudicar o resultado final.