Conheça o outro lado de Samanta Pineda, ex-primeira-dama de Ribeirão Preto - Juliana Rangel

Conheça o outro lado de Samanta Pineda, ex-primeira-dama de Ribeirão Preto

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Nos últimos anos, a preocupação com o meio ambiente e com setores que estão proporcionalmente conectados a esse assunto vem crescendo cada vez mais. Assuntos como descarte incorreto de lixo, pegada de carbono, ESG, preocupação com as mudanças climáticas, entre outros,  nunca estiveram tão em alta como agora, afinal, segundo o relatório do Painel Intergovernamental sobre o Clima, o IPCC, temos até 2025 para mudar nossas atitudes em relação ao meio ambiente e evitar uma catástrofe climática.

Se para grande parte da sociedade esse é um assunto que está ganhando visibilidade recentemente, para a advogada especialista em Direito Ambiental, Samanta Pineda, esse é um assunto antigo e que ela vem tentando conscientizar a população através das suas redes sociais.

Entre um compromisso e outro, Samanta se tornou um dos principais nomes quando o assunto é meio ambiente e sustentabilidade, inclusive, já foi um dos nomes cotados para assumir uma cadeira no ministério. Recentemente a advogada esteve em Ribeirão Preto para participar da 27º Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação, a Agrishow, e durante sua estadia na cidade, conversamos sobre sua trajetória de vida e profissional. Acompanhe:

Juliana Rangel: Samanta, quem  é você? Eu falo isso, pois estamos tão acostumados a falar “Samanta Pineda, advogada especialista em meio ambiente”, mas hoje eu quero saber quem de fato é você.

Samanta Pineda: Nossa! Até me arrepiei aqui (risos). Bom, eu nasci em um bairro da periferia de Curitiba e comecei a trabalhar com 12 anos, já fiz de tudo e apesar disso, sempre fui uma menina muito otimista, para cima, muito feliz, alegre, contente, mas que passou por muita dificuldade.

Eu comecei trabalhar tão cedo por que era muita falta, né? Nós éramos bem pobres. Minha mãe sustentava nossa casa, mas eu podia comprar um tênis no ano, uma calça no ano e eu via meus colegas numa situação melhor e eu queria isso. Minha mãe também sofria muito por não poder dar condições melhores para mim e para o meu irmão e aí eu falei “ué, por que não? Eu posso”. Quando comecei a ganhar e ver a facilidade que eu tinha de comunicação, de fazer relacionamentos com as pessoas, eu percebi que estava no caminho certo.

Juliana Rangel: E quando surgiu essa vontade de fazer Direito e atuar na área ambiental?

Samanta Pineda: Eu me casei muito cedo, eu tinha 19 anos. O meu primeiro marido era médico e, coincidentemente, ele também tinha vindo de uma família muito pobre. Quando eu falei que queria fazer Direito, ele me apoiou demais! Nós trabalhamos com tudo que aparecesse para conseguir pagar nosso apartamento e minha faculdade, tudo com muita garra.

Eu nasci separando lixo reciclável e me doía ver algumas situações, como lixo no chão, água suja, árvores sendo cortadas. Acho que esse meu amor por essa área vem por ter tido uma criação muito focada em questões sustentáveis, poxa, eu nasci em Curitiba! Cresci ouvindo sobre meio ambiente e também tive uma raiz em Clevelândia, onde meus tios eram produtores rurais e eu passava as minhas férias nesse ambiente verde.

Um pouquinho antes de eu me formar, eu consegui um trabalho no Ministério Público do Meio Ambiente, lá em Curitiba, e o primeiro trabalho foi um caso em que estavam discutindo a respeito de cães de guarda que eram colocados em terrenos e acabavam sendo maltratados. Eu achava um absurdo um cara não pagar um guarda, usar um cachorro e ainda não dar água e comida para ele. Foi nesse meu primeiro trabalho que eu me apaixonei e disse “é isso que eu quero fazer”.

Juliana Rangel: Você é sócia fundadora do Pineda & Krahn, como foi abrir o seu próprio escritório?

Samanta Pineda: Eu lembro que na época não existia nenhum escritório de Direito Ambiental em Curitiba. Existia em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, só! Quem era eu na fila do pão para abrir um em Curitiba, né? Mas mesmo assim eu abri. Eu comecei fazendo uma coisa e outra ali para conseguir pagar as despesas e também preparava palestras para os setores. Eu identificava a dor de um setor específico e ia em sindicato, entregava cartão e fui fazendo isso. Esse meu marido sempre me apoiou, ele cuidava das crianças, porque nessa época meu segundo filho já havia nascido e eu já estava com o escritório, mas ele não rodava muito.

Com 10 dias meu filho ia para o serviço comigo e eu trabalhava junto com uma estagiária – que hoje é a minha sócia, a Manoele Krahn – ela pegava o meu filho, recém-nascido, e ia para fora do escritório, para que eu pudesse fazer reunião com cliente. Isso é uma coisa que eu quero até deixar como recado, é possível sim ser mãe e ter uma carreira. Se disseram que não é possível, grite, esperneie e contradiga! Nós somos capazes sim.

Juliana Rangel: E qual foi o momento que sua vida deu ali uma “virada de chave”?

Samanta Pineda: A virada da chave aconteceu mesmo em 2005, quando eu estava no escritório e recebi uma ligação do sindicato rural de Ponta Grossa, falando que estavam com dúvidas, pois haviam criado alguns parques em cima das áreas produtivas deles, e ele lembrou de mim por causa das palestras que eu fazia! Eu falei, “opa, espera aí. Está tudo errado”.

Fui para a cidade achando que falaria com os produtores rurais, mas quando cheguei na reunião, havia três deputados na sala. Eu nunca tinha visto um deputado na vida, era 95% de uma sala cheia de homens e eu cheguei, escutei tudo que tinha que ouvir, falei o que precisava e no final o Lupion (deputado na época) me chamou para conversar em uma sala. Eu fui, mas fui tremendo de medo, imagina… ele perguntou de onde eu sabia tanta coisa e nisso ele me convidou para dar uma palestra em Brasília.

Eu não tinha dinheiro para ir para a cidade. Parcelei em 10x a passagem e fui. Quando cheguei tinha muitos deputados para me ouvir e fui falando. Quando terminei, eles disseram que queriam a minha ajuda para reescrever a legislação ambiental e nisso várias associações me contrataram e me pagavam para ir a Brasília fazer esse serviço.

Juliana Rangel: Além da sua história incrível com o Direito Ambiental, você também foi primeira-dama de Ribeirão Preto, como foi isso?

Samanta Pineda: Eu conheci o Duarte Nogueira em Brasília, nessas minhas idas e vindas. Ele era deputado federal e nós começamos a namorar em 2013, eu acho, e em 2016 eu me mudei para Ribeirão, ele disse que seria candidato a prefeito e que me queria como primeira-dama. Não foi um pedido de casamento mas foi quase (risos).

Continuei com a minha carreira, meu escritório continuou em Curitiba, eu continuei prestando consultoria, mas conciliei tudo isso com uma nova via. Eu cheguei em Ribeirão para viver algo que eu não conhecia, que era estar dentro da política. Essa foi uma experiência muito rica para mim.

Juliana Rangel: Enquanto você morava em Ribeirão você quase foi eleita deputada, não é mesmo?

Samanta Pineda: Sim! Quando eu vi a oportunidade eu disse “eu vou me candidatar”. Eu ainda era casada com o Nogueira e ele é afiliado do PSDB, não fazia sentido eu me afiliar a outro partido.

No total eu fiz 42 mil votos e hoje eu falo, graças a Deus eu não fui eleita (risos). Eu me afiliei mais porque eu queria estar fazendo algo pela política ambiental do País e não porque esse é meu sonho. Eu não quero uma carreira política para a minha vida.

Juliana Rangel: No ano seguinte a sua candidatura em 2018, você e o prefeito Duarte Nogueira se separaram. Como foi isso?

Samanta Pineda: Eu me separei do Nogueira, prefeito de Ribeirão, e eu fiquei realmente quebrada. Eu quebrei como nunca eu achei que fosse possível. Foram muitos cacos, eu fiquei totalmente perdida do ponto de vista de fracasso, de sensação de injustiça, de não ter força para recomeçar e eu fui me ajudar!

Comecei a frequentar um terapeuta e nas primeiras oito sessões eu não falava nada, só chorava (risos). Também fui para a igreja… eu sempre fui Cristã, mas nesse momento da minha vida eu me aproximei ainda mais de Deus.

Depois da separação, eu ainda fiquei um ano em Ribeirão a pedido do meu filho que estava finalizando o ensino médio. Além disso, eu também fui para academia e disse para a recepcionista “olha, eu estou deprimida. Ou eu viro a louca da academia ou eu vou beber” (risos). Acabou que ela me chamava para todos os eventos e eu acabei fazendo uma turma muito legal lá.

Eu quero deixar um outro recado, que é: por mais que a vida pareça estar no lugar, você vai ter uma queda. Mas, quanto mais alto você cai, mais são os cacos e mais bonito é o mosaico que você pode construir. Hoje eu sou tão feliz e grata pelas coisas, que nesse processo de reconstrução a gente se torna melhor do que somos.

Juliana Rangel: É muito bacana ver essa reestruturação, né? Mas me conta uma coisa, quais são seus novos planos? Estou sabendo que vem por aí um curso de Direito Ambiental…

Samanta Pineda: Gente, todo mundo me pedia isso! (risos). Eu estou fazendo um curso online, onde eu vou pegar todo esse conhecimento de Direito Ambiental, vou organizar isso, vou dividir em três módulos desde a base, até os dias de hoje, e para quem é esse curso? Para pessoas que não são advogadas, principalmente. É lógico, para os advogados também, mas o meu propósito é descomplicar esse linguajar e fazer com que todos entendam o Direito Ambiental. Minha meta é fazer com que o meio ambiente seja melhor cuidado e que haja uma remuneração para quem cuida, porque isso dá trabalho, isso dá prejuízo, da despesa, então nada mais justo.