De sacoleira a empresária: conheça a história de Taisa Salermo dos Santos - Juliana Rangel

De sacoleira a empresária: conheça a história de Taisa Salermo dos Santos

Compartilhe:

A indústria da moda é um mercado muito tradicional e bastante importante para a economia mundial, prova disso é o crescimento disparado desse setor em diversas plataformas online. Segundo pesquisa realizada pelo Valor Investe, esse segmento é o maior em faturamento global no e-commerce B2C, com vendas de US$ 525 bilhões ao ano. Ainda segundo o site, é estimado que até 2025 o faturamento do setor chegue a US$1 trilhão.

Um estudo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, o Sebrae, mostrou que o empreendedorismo feminino brasileiro vem se recuperando desde o último trimestre de 2021, onde teve uma queda devido as restrições causadas pela pandemia da Covid-19. Esse mesmo estudo, com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, a PNADC, mostrou que após recuar para um total de 8,6 milhões no segundo trimestre de 2020, as mulheres voltaram a estar à frente de um empreendimento e o País fechou o quarto trimestre de 2021 com 10,1 milhões de empreendedoras, mesmo número registrado em 2019, antes da pandemia.

Com 15 anos de experiência no mercado da moda, Taisa Salermo dos Santos é proprietária da Marikitta, loja localizada em Ribeirão Preto que se tornou referência e acompanhou todos esses cenários instáveis. Em um bate-papo bem descontraído, a empresária conversou com nossa equipe e contou um pouquinho sobre a sua rotina e as novidades no mercado da moda. Acompanhe:

Juliana Rangel: Para começar, me fala um pouquinho quem é a Taisa Salermo dos Santos!

Taisa Salermo dos Santos: Hoje eu sou uma mulher de 42 anos, com dois filhos, que se descobriu como vendedora anos atrás. Muitas pessoas usam essa palavra de uma forma pejorativa, como “ah, essa pessoa não deu certo na vida e foi ser vendedora” como se essa fosse uma profissão simples e eu não acho isso. Para mim, uma pessoa já nasce com esse talento para vendas.

Venho de uma família de comerciantes, onde existem muito mais mulheres do que homens, todas ligadas a esse mundo. Minha mãe já mexeu com moda, então desde muito cedo eu já fui ligada com isso.

Esse meu lado de vendas surgiu aos 10 anos, quando o meu pai sofreu um acidente e minha mãe teve que sair para trabalhar fora de casa. Nesse momento eu amadureci muito rápido, afinal, eu fiquei cuidando dos meus outros irmãos já que eu era a mais velha. Aos 12 anos, eu queria ir a uma excursão no PlayCenter e é lógico, minha mãe não tinha esse dinheiro, nós passávamos muitas dificuldades, mas eu queria ir nesse parque. Foi aí que eu falei para ela “você faz vinte roscas para eu vender na rua?” e ela fez. Acho que vendi todas elas em 20 minutos, então eu consegui o dinheiro da minha passagem fazendo essa venda.

Essa viagem teve um sabor de realização tão grande, porque ela foi feita com meu próprio dinheiro, com a minha própria luta… acho que foi nesse momento que a história do empreendedorismo começou na minha vida.

Juliana Rangel: E de onde surgiu a Marikitta?

Taisa Salermo dos Santos: Eu conheci o meu marido aos 14 anos e desde então nós estamos juntos. Assim que eu tive nosso filho, eu tive o privilégio de poder ficar em casa enquanto ele trabalhava, eu falo privilégio porque nem todas as mulheres podem fazer isso, mas mesmo estando dentro de casa, eu nunca parei com tudo. Quando fui de fato voltar para o mercado de trabalho, o Rogério [meu marido] comprou uma empresa de bilhar e fomos trabalhar, eu, ele, um colega dele e a esposa. Eu e ela não entendíamos sobre esse mercado, mas ficamos ali em torno de um ano e depois vendemos a empresa, porque não era aquilo que eu queria. Voltei a ficar em casa e fui fazer terapia para descobrir no que eu era boa para trabalhar.

No primeiro mês da terapia (essa é uma história engraçada) eu fui pedir o dinheiro para o Rogério e ele me disse “olha, vou te falar a verdade, esse é o primeiro e último mês dessa terapia” aquilo me deu uma raiva, eu pensei “pô, espera aí! Você é meu marido, vai pagar sim”. Depois de anos eu fui entender o porquê dele ter dito aquilo, ele acreditava no meu potencial de empreender e queria que eu enxergasse isso. Enfim, fiquei anos na terapia, ela era especialista em assuntos relacionados ao trabalho e um dia ela me disse “bom, você tem medo de começar? Pois você vai perder esse medo, mês que vem você começa o seu negócio” e aí eu comecei.

Fui para São Paulo, fiz uma pesquisa de uns seis meses antes, para saber os locais onde eu poderia encontrar roupas boas e fui. Cheguei lá, eu estava com a listinha, com todos os endereços. Fiz as compras, voltei, vendi praticamente tudo e uns 15 dias depois voltei para a capital e fiquei nesse ciclo, vendendo de sacola mesmo. Fiquei um ano sendo sacoleira e meu marido falou “bom, acho que podemos dar um passo maior” e aí fomos procurar um ponto para abrir nossa loja. Depois de alguns anos, em 2012, nós começamos a vender pela internet, que era uma coisa que estava ficando cada vez mais acessível e poderíamos captar mais clientes.

Juliana Rangel: Com relação as vendas online, eu falo que você foi uma das pioneiras nesse setor, né? Em 2012 nós nem pensávamos em e-commerce. Como foi esse processo para você?

Taisa Salermo dos Santos: Nessa época, o Rogério já estava fazendo a transição de grandes empresas para loja. Ele sempre foi muito antenado e muito esperto, então ele me falava “Taisa, o comércio não pode parar no tempo, se você parar, o concorrente te engole” e aí o site nasceu, bem devagarinho. Foi numa época também onde eu decidi recuar, eu já estava com três lojas em Ribeirão e resolvi fechar duas para ficar só com uma loja, num formato maior.

Durante a pandemia, muitas pessoas vieram tirar dúvidas comigo, referente ao site. As pessoas acham que você montar um site é só abrir o “www” e pronto. Elas não entendem que você é quase uma sardinha no oceano quando você abre um site. Na loja física, o cliente passe em frente e ainda te vê, no online não! Se ele não entrar no seu site, você não vai ser visto. Para ele acessar o seu site, o cliente precisa te conhecer, e para ele conhecer, você precisa investir. E marketing digital não é barato. Durante a pandemia, as pessoas queriam começar faturando o que um site que está no ar há 10 anos fatura e não é assim.

Na época que comecei não existia marketing digital, tanto que a primeira foto da conta do Instagram da minha loja é uma foto minha e da minha família, eu lembro que eu pagava o Google porque não existia nada como é hoje. Eu comecei no Orkut e fui para o Instagram.

Juliana Rangel: E durante a pandemia, como foi para você realmente agarrar o e-commerce?

Taisa Salermo dos Santos: A pandemia foi uma necessidade imediata da venda, né? Não era um trabalho no e-commerce. Hoje em dia, de uns três meses para cá, de 10% que ele representava o nosso faturamento, hoje ele representa 30%. Foi muito trabalho, muito estudo para entender. Confesso que o Rogério dizia “você vai entender isso ou não vai?”, porque eu não agarrava o e-commerce… eu gosto muito da loja física, mas ao mesmo tempo, eu me apego as minhas clientes porque eu passo o dia conversando com elas.

Teve um fim de semana que eu falei para ele “puxa as vendas aí, vamos ver de onde que é” e cara, é do Brasil todo! Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco, Brasília, Rio de Janeiro e hoje eu tenho um amor grande por elas também, e o Instagram me proporciona dar um atendimento personalizado para elas.

Juliana Rangel: Que bacana. Me conta como funciona a sua rotina de compras?

Taisa Salermo dos Santos: Eu tenho essa rotina há 16 anos, né? Qualquer dia que eu for para São Paulo, eu vou ter mercadoria. Agora com o WhatsApp então… por um lado é bom que eu sempre acho, mas pelo outro é ruim porque eu trabalho 24h por dia. Eu gosto de ir para São Paulo, de procurar, de ajudar… tem fornecedor que pede minha opinião para criar as peças, eu gosto disso! Tem pessoas que se acomodaram com o WhatsApp, não vão mais para São Paulo e depois querem saber o que minha loja está fazendo. É isso que ela está fazendo, isso que a Marikitta faz, sai de casa 22h de um dia, chega em São Paulo às 5h ou 6h e sai andando nos fornecedores, procurando sempre o melhor.

Juliana Rangel: Quais as novidades da loja?

Taisa Salermo dos Santos: A Marikitta está fazendo 15 anos e eu vou lançar a nossa marca própria! Eu fiz uma coleção grande, baseada no que eu acredito, no que eu acho que veste e valoriza o corpo feminino, peças com valores acessíveis, atemporais, versáteis, enfim! Eu coloquei nessa coleção tudo o que eu não encontrava no mercado.

Juliana Rangel: E qual conselho você pode dar para quem está começando?

Taisa Salermo dos Santos: Não desista do seu negócio, não perca tempo… as decisões de mercado precisam ser rápidas, não dá tempo para pensar. O mercado está aí, ele vai te atropelando, e se você ficar, ele vai te deixar para trás. As oportunidades estão aí todos os dias, mas as percas também estão.

Comece pensando no que você vai fazer para dar certo todos os dias e não existe a possibilidade da desistência. Não tem como dar errado… é claro, sabendo do contexto todo, que é difícil, que não é todo dia que seu caixa vai fechar positivo, mas que você vai estar ali, lutando.