Odilon Wagner traz detalhes da vida artística e de sua peça “A última sessão de Freud” - Juliana Rangel

Odilon Wagner traz detalhes da vida artística e de sua peça “A última sessão de Freud”

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Odilon Wagner é ator, autor e diretor de teatro brasileiro, nascido em Curitiba, no Paraná. Iniciou a carreira artística em Ponta Grossa e hoje já soma 52 anos atuando na TV, cinema e teatro, com seus diversos papéis. Sua estreia na televisão foi em 1974, com a novela Supermanoela, produzida pela TV Globo. Já participou da Super Dança dos Famosos, na TV Globo e se apresentou em Ribeirão Preto no último dia 5 de novembro com a peça “A última sessão de Freud’’, no Theatro Pedro II.

Baseado no livro “Deus em Questão”, escrito por Armand M. Nicholi Jr., o tema central da peça é a crença em Deus. Com texto do autor americano Mark St. Germain, “A última sessão de Freud” acontece no gabinete do neurologista, no dia em que Londres entra na Segunda Guerra, em 1939, e ali existe um grande confronto de ideias. O espetáculo apresenta um encontro fictício entre o pai da psicanálise, interpretado por Odilon Wagner, com o escritor e poeta C. S. Lewis, interpretado por Claudio Fontana.

Para falar melhor sobre essa trajetória, Odilon Wagner participou do Podcast Juliana Rangel News. Acompanhe:

Juliana Rangel: Desde março, com estreia em São Paulo, atualmente a peça teve em sua última apresentação do ano aqui em Ribeirão Preto, isso mesmo?

Odilon: Desde março com um sucesso enorme, hoje eu não tenho pudor de falar que é o maior sucesso do teatro de prosa no Brasil. É uma surpresa para todos nós. Quando pensamos na peça, que é um sobre um encontro do Freud, pai da psicanálise no gabinete dele, que aliás tem um cenário com espetáculo a parte, todo em madeira, com os livros e as artes colecionadas. Então, o Freud que era ateu, militante do ateísmo, chama no seu gabinete para conversar um literato, professor de Oxford, crítico de arte muito inteligente e que era um ex-ateu que se converteu ao cristianismo racional, da fé raciocinada e o ele não se conformava com isso. Trata-se de um encontro muito respeitoso dos dois com um debate sobre a existência ou não de Deus, sentido da vida, sexualidade e tantos outros temas comuns do ser humano, por isso transforma a peça em uma coisa tão popular. Tem muito humor, porque todas as pessoas muito especiais, como os dois gênios do século XX, tem muito bom humor. Na peça, a ironia e o sarcasmo estão o tempo todo correndo entre eles e o público se diverte.  

Juliana Rangel: Falando um pouco sobre os 52 anos de carreira, você tem a seguinte frase: “Nós precisamos de arte para viver, assim como precisamos do alimento para sobreviver”, ou seja, são muitos anos na classe artística defendendo o papel da cultura e levando a importância da atuação para o público. Estamos falando de televisão, teatro, cinema e várias outras defesas de classe que você está sempre presente.

Odilon: Sem dúvidas, eu considero que nós não temos saída no nosso País se não for a cultura e da educação. É como o cachorro que corre atrás do rabo, a gente só vai conseguir desenvolver o País no ponto de vista social, econômico e em seus aspectos maiores de uma nação, quanto mais educação e cultura tiver esse povo. Isso porque a cultura é o reflexo da identidade de um povo, as pessoas muitas vezes se limitam ao teatro ou a música, mas na verdade são os valores que a gente vive no cotidiano, sejam eles regionais ou familiares. A arte traz a possibilidade do conhecimento e ele nos liberta das amarras, é uma identidade do povo. O Freud tem uma frase sobre a arte que é maravilhosa e dizia assim: “onde quer que a psicanálise chegue, os poetas já chegaram antes”.

Por isso, ele era um colecionador de arte. Seja no teatro, cinema, música, nas artes plásticas, design ou na moda, por exemplo, tudo é cultura criativa e fundamental para que o cidadão tenha aquele sentimento de pertencimento. E a educação, não precisa nem falar mais nada. Um povo educado, no sentido formal evidentemente, é o que leva uma nação para se desenvolver economicamente e eu sempre sinto a Coreia do Norte, que foi um país destroçado pela guerra e hoje é uma das nações mais ricas do mundo, com uma capacidade de produção industrial, intelectual e tecnológica como a melhor, porque eles decidiram lá atrás que o foco principal era a educação e formar as gerações.

Juliana Rangel: Essa sua trajetória na parte cultural e artística, quando você começou lá atrás, teve um pouco da influência da sua mãe que fazia teatro amador, né?

Odilon: Sim, eu morava no interior do Paraná, em Ponta Grossa, e eu sempre via minha mãe ligada a tudo que tinha de espetáculo e mesmo sem muitos teatros existentes, ela me levou pela primeira vez quando eu tinha meus 8 anos. Fomos ao Cine Ópera em um espetáculo chamado “Eu sou o espetáculo”, de José de Vasconcelos, ele foi o primeiro artista brasileiro a fazer stand-up. Mas minha mãe, que dançava porque minha tia era professora de dança, teve sempre essa coisa artística presente na vida. E eu, que não sabia muito o que queria ser para o resto da vida, escolhi arquitetura, mas já no meio do processo de vestibular, eu já estava começando ensaiar no grupo universitário e abandonei a entrada para o curso. Então a influência da minha mãe foi muito grande.

Juliana Rangel: De toda sua trajetória na TV qual personagem mais te marcou e deixou um carinho especial?

Odilon: Tem alguns personagens bacanas, mas eu destacaria um que as pessoas talvez nem lembrem mais e foi de uma minissérie chamada ‘’O Tempo e o Vento’’, dirigida pelo Paulo José, um dos trabalhos mais gratificantes que eu fiz. Voltando às novelas, ‘’Por Amor’’ é uma que até hoje tem uma repercussão extraordinária, porque era a primeira vez que colocavam uma personagem bissexual de um homem causado e uma família harmoniosa. Essa era uma discussão que naquela época que normalmente, a homossexualidade era mostrada sempre de uma forma caricatural, e isso eu nunca aceitei. Quando me convidaram, disseram que a ideia era debater esse assunto e se essa realidade existe, temos que aceitar. Fiz esse personagem e foi muito polêmico na época.

Caminho das Índias foi outro personagem muito potente onde eu fazia o Mike, um golpista de mulheres, junto a outra golpista que dava golpes em homens, mas fazia isso com classe. Isso foi muito marcante para mim pois a quantidade de assédio que eu tive naquele período foi impressionante e aquilo me deu um nó na cabeça e me fez ficar pensando bastante.

Confira abaixo a entrevista completa no Podcast Juliana Rangel News: