HISTÓRIAS NUNCA CONTADAS DO DR. SÓCRATES, ÍDOLO DO CORINTHIANS – PARTE 1 - Juliana Rangel

HISTÓRIAS NUNCA CONTADAS DO DR. SÓCRATES, ÍDOLO DO CORINTHIANS – PARTE 1

Compartilhe:

Conheça as histórias nunca contadas do Dr. Sócrates pelo seu grande amigo Kaxassa, fundador do Cine Cauim de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Eles foram melhores amigos, convivendo até a morte do ex-jogador, e pensando em preservar essas boas lembranças, os trechos do podcast Juliana Rangel News foram extraídos na íntegra durante a participação de Fernando Kaxassa, inclusive a linguagem informal dos amigos.  

Sobre Fernando Kaxassa
Fernando José da Silva, ou Fernando Kaxassa, como é mais conhecido, tem 62 anos, foi um dos fundadores do Cine Cauim há 44 anos: o cineclube mais antigo do Brasil em atividade, que atualmente está em obras. Foi um dos melhores amigos do Dr. Sócrates, considerado um dos maiores entusiastas do projeto.

Sobre Sócrates
Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, cujo apelido era magrão, foi um futebolista na década de 80, treinador e médico brasileiro. É um dos maiores ídolos do Corinthians e do Botafogo de Ribeirão Preto, além de ativa participação política. O atleta nunca escondeu seu apreço pela cerveja e cigarro, inclusive quando jogava.

Para falar melhor sobre esses momentos de amizade, Fernando Kaxassa participou do Podcast Juliana Rangel News. Acompanhe:

Virei amigo do Sócrates porque ele gostava de beber

Fernando Kaxassa: A amizade com o magrão era o seguinte: eu me lembro assim, quando o Cauim ainda era aqui em cima onde era o Gilson aqui, agora virou um estacionamento, tinha uma sessão acho que quinta à noite e passava uns filmes raríssimos né, Hamlet Soviético, uns filmes que a gente conseguia, você tinha que conseguir, a gente pegava de colecionador e tal.

E eu me lembro que tava passando um filme lá e ele chegou, ele era casado com a Regina ainda: ‘’pô, você que é o Kaxassa?’’, eu era muito magro assim, e ele falou ‘’pô, você que é o Kaxassinha?’’, ele sempre me chamou de Kaxassinha.

‘’Pô, verdade que você não gosta de futebol?’’. Eu falei ‘’eu odeio’’. ‘’E de beber?’’, ‘’eu adoro’’. Aí fomos tomar cerveja, a Regina foi ver o filme, nós ficamos no barzinho da esquina e aí toda vez que se encontrava era uma farra porque sempre gostou muito de cinema, de teatro, de ler e é uma coisa que eu faço a vida inteira. Ler pra mim é meio que obrigatório, mais por causa da insônia, e aí a gente bebia muito junto.

Sócrates precisava beber para perder a timidez

Fernando Kaxassa: O magrão era o seguinte, o magrão ele era assim, ele era muito tímido, muito! Eu fui e eu deixei de ser, o magrão se ele não tomasse aquela cervejinha dele, ele era uma coisa muito… era horrível isso. Eu via isso direto. O magrão ele tinha aquele negócio de qualquer lugar do mundo, o magrão era o magrão, se abria com todas as portas do mundo.

O Sócrates fez muita coisa por Ribeirão e não tem nenhum reconhecimento

Fernando Kaxassa: E agora, você sabe que eu acho uma coisa interessante, é que Ribeirão Preto, isso daí eu não consegui entender ainda, Ribeirão Preto não tem nada com o nome do Sócrates né. O Sócrates não era de Ribeirão, o Raí é de Ribeirão, o Sócrates ele era de Ribeirão por adoção. ‘’De onde você é?’’, ‘’eu sou de Ribeirão’’, ‘’você não é de Ribeirão, você é do Pará’’, ‘’não, eu sou de Ribeirão’’… quer dizer, então eu também quero brigar por uma alguma coisa assim né que tenha.

Eu bebia de madrugada com o Sócrates

Fernando Kaxassa: Pra cima, né? O magrão, assim, às vezes eu tava puto com alguma coisa e ele passava em casa assim chegando de viagem assim, dava uma buzinada, eu moro no segundo andar, e eu ‘’olha só, pô o magrão chegou’’, aí ele ‘’pá, desce aí’’.

Um dia ele me ligou de São Paulo: ‘’tô chegando’’, eu falei ‘’porra magrão, eu tenho insônia braba’’, eu tava lendo, falei ‘’porra, magrão, 2h30 da manhã, terça-feira, amanhã a gente conversa. Ele ‘’amanhã, não! 1h30, 1h30’’. Tá bom, chegou, pá, buzinou, eu tava lendo, a Bárbara tava lá no quarto e falou ‘’ó, tão buzinando aí embaixo, acho que é o magrão’’.

Pô, desci: ‘’e aí?’’, ele ‘’não, entra aí, vamos tomar uma’’. Eu não bebia em casa, nenhuma gota, não bebo, não tenho paixão nenhuma de beber em casa, e aí ‘’pô, vamos tomar uma cerveja?’’, eu falei ‘’onde magrão?’’, e na época ele tava separado e quando ele separava, ele ficava na casa da Dona Guiomar e lá também não tinha bebida. Ele falou ‘’acha um bar, pô, você é o rei da noite’’. Eu falei ‘’terça-feira, 2h30 da manhã, não vamos achar bar em lugar nenhum véi’’.

Hotel teve que pegar duas latinhas do frigobar para mim e para o Sócrates

Fernando Kaxassa: Raro em Ribeirão! ‘’Pô e aí?’’, ‘’Porra, duas cervejas será que a gente não vai achar lugar?’’, eu falei ‘’acho que não’’, ‘’vamos parar no Grego, no Stream. Descemos lá, reformando o bar do Stream, o cara falou ‘’pô, Kaxassa e Sócrates vocês estão doidos? São 3h da manhã. ‘’Tá lotado o hotel?’’, ‘’Não. Lógico que não’’,  ‘’então vai num frigobar daqueles e pega um chopp, umas latinhas pra gente.

O cara, pô, vai fazer o que? Vai lá e pega as latinhas. ‘’Não, mas eu…’’, ‘’ó, vou ligar pro Grego, vou acordar o Grego, que era o Saranzi. Aí fomos tomar uma latinha, aí 6h da manhã desce o pessoal pro café, desce o Saranzi ‘’que que isso? Pô, ninguém me acordou’’.

Quase sai no tapa com o Sócrates na frente do Bar Brahma

Fernando Kaxassa: Tem num livro uma briga que eu tive com ele no Brahma, uma briga, quase saiu de tapa. Nós fomos pra São Paulo lançar o filme lá dos boleiros que ele trabalhava, no outro dia eu fui dormir num lugar, ele no outro, mas a cama encontra ali na Frei Caneca lá em cima que tinha o negócio de cinema, fui lá marcar filme.

Chegamos ali, ele ‘’pô, vambora, vambra? Vamos tomar uma saidera?’’, aí ‘’pra onde é que a gente vai?’’, ‘’vamos lá no Brahma?’’, ‘’vamos no Brahama’’, falei vamos a pé porque ele adora andar e eu também. Só que em São Paulo ele não pode andar porque ele era muito conhecido. Aí, pô, ‘’vamos pegar um táxi?’’, ‘’ah, vamos andando, descer aqui, vira lá, só que eu calculei mal. Quando nós descemos a Frei Caneca não tinha ninguém, quando nós viramos pra República, ali já começaram assim ‘doutor, doutor, doutor’ e ele ‘’pô, vambora, pegar um táxi’’, eu falei ‘’agora não dá véi, o cara vai ter que dar uma puta volta, vamos apertar o passo e vamos’’.

Apertamos o passo e vamos, chegamos no Brahma, o Brahma fechado, esquecemos, aí ele falou pra mim ‘’nossa, tô suado pra caralho, filho da puta, você fez eu andar até aqui e o bar tá fechado’’, eu falei ‘’magrão, você quer que eu faça o que?’’, ‘’eu quero que você vá buscar chopp, eu vou sentar aqui nessa coisa aqui e vou ficar esperando você achar um chopp’’, eu falei ‘’vá pra puta que te pariu, não vou achar chopp porra nenhuma’’, ‘’ah vai!’’, de repente começou a chegar gente ‘’é o Sócrates, é o Sócrates’’, lógico que a gente não tava brigando, mas pra quem não conhecia, tava achando que a gente tava se matando.

Eu falei ‘’ó, tem o bar do Léo ali’’, ele ‘’eu não vou no bar do Léo, tá fechada aquela porra’’, ‘’não tá’’, ‘’não vou’’, ‘’vai lá e traz um chopp’’, ‘’eu vou lá no bar trazer um chopp pra você?’’, ‘’traz!’’ e aí começou aquela coisa, de repente começou a juntar gente. De repente vem um garçom e fala ‘’Dr, Kaxassa, o que vocês tão fazendo aí fora?’’, ‘’o idiota quer beber, o bar tá fechado’’, ‘’não, entra aqui, aí entrou, ele ligou pro Álvaro, que era o dono, o Álvaro é dono até hoje’’, ‘’Álvaro, você não sabe o que tá acontecendo, tá uma muvuca aqui na porta, o Kaxassa e o magrão brigando lá fora’’, ‘’mas, brigando por que os dois pô, os dois são amigos pra caramba?’’, ‘’não por causa do bar tá fechado’’, ‘’não, mas dá chopp pra eles pô’’.

Confira abaixo a entrevista completa no Podcast Juliana Rangel News: