Em entrevista, Liliane Pelisson fala sobre a prevenção e tratamento de lesões por pressão - Juliana Rangel

Em entrevista, Liliane Pelisson fala sobre a prevenção e tratamento de lesões por pressão

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Liliane Pelisson, enfermeira especializada em tratamento de feridas, acumula mais de duas décadas de experiência na saúde. Iniciou aos 16 anos como atendente de enfermagem, obtendo formação em Instrumentação Cirúrgica pelo Centro Universitário Barão de Mauá aos 19

Em uma conversa esclarecedora, Juliana e Liliane abordam a realidade das lesões por pressão, o segundo tipo de evento mais notificado pelos Serviços de Saúde do país. Na entrevista, elas exploram desde a prevenção até mitos sobre a cicatrização.

Juliana: As lesões é o segundo tipo de evento mais notificado pelos Serviços de Saúde do país?

Liliane: Isso mesmo, é chocante, né? É chocante o número. Então, esse dado é bem recente e mostra que, apesar dos nossos cuidados em ambientes hospitalares serem muitas vezes de boa qualidade, a gente ainda deixa a desejar nesse ponto. Porque você sabia que essas feridas que estamos falando hoje aqui, elas não precisavam existir?

Juliana: Se houvesse prevenção, né?

Liliane: Se houvesse prevenção, então nós entendemos que 95% delas seriam completamente evitadas. Então é um sofrimento que você não precisa passar.

Juliana: Esse dado também da OMS relata que é a quinta principal causa de morte no mundo?

Liliane: O que acontece é que uma vez que a gente rompe a barreira de proteção da pele, a gente fica com um espaço aberto, uma porta aberta para bactérias, para microrganismos causarem infecção no nosso corpo. E dependendo do quão frágil esse organismo está, essa infecção deixa de ser apenas local e passa a ser a nível sistêmico. E aí o organismo muitas vezes não consegue combater essa infecção, e o paciente morre, normalmente por septicemia, que é o nome que a gente dá para uma infecção generalizada.

Juliana: A gente sabe que isso não é em qualquer área. Só que isso não é a realidade que a gente tem, por exemplo, no Brasil, né?

Liliane: Não, não, já dizia a nossa avó, né? É muito melhor prevenir do que remediar. E quando a gente fala de lesão por pressão, não é diferente. Infelizmente, os nossos serviços de saúde ainda estão muito voltados para o tratamento. Então são poucos os convênios, poucas as instituições hospitalares que podem ser isso nesse momento, antes de acontecer a lesão por pressão.

Juliana: Como é que se previne?

Liliane: Toda vez que uma área do corpo, geralmente com um ponto de osso, pode ser o cotovelo, pode ser a região sacral que é muito comum, fica sendo comprimida por muito tempo, aquela região deixa de receber sangue e aí ela morre.

Juliana: A ferida precisa ficar aberta para respirar?

Liliane: Essa questão da ferida respirar ainda é muito presente no nosso dia a dia. Eu falo assim: ferida não tem nariz, portanto, ela não respira. Mas a nossa pele transpira. Então, existe um clima adequado e uma temperatura adequada para nossa pele. Realmente, não pode ter muita umidade, mas uma ferida aberta nunca pode ficar sem uma proteção, sem um curativo.

Juliana: Existem partes do nosso corpo que cicatrizam com mais facilidade?

Liliane: Olha, como é a pele, né? Se você pegar a sua pele da pálpebra aqui, olha como ela é fininha, né? Pegue a pele de um calcanhar de uma pessoa que usa só rasteirinha. Então, a pele da gente muda dependendo da localização do corpo, e tem áreas que vão cicatrizar mais rápido, áreas que são mais úmidas, áreas próximas à articulação. São áreas que exigem cuidado maior porque têm um risco, no caso de uma articulação, nas áreas de articulação, o próprio movimento pode fazer essa ruptura.

Juliana: Fumar prejudica a cicatrização?

Liliane: O cigarro, de uma maneira geral, as toxinas do cigarro fazem uma inflamação nos vasos sanguíneos, tornando o processo totalmente mais complexo. E por conta da inflamação que ele faz nos vasos, ele faz uma inflamação na ferida também, maior.

Juliana: Uma coceira localizada na área pode indicar que a ferida está cicatrizando?

Liliane: A coceira é uma reação muito comum do processo cicatricial mesmo, né? Muitas vezes, forma aquela cicatriz inicial, mas ela ainda está muito ressecada. Esse ressecamento às vezes da pele ao redor ali causa assim a coceira, então é verdade.

Juliana: Podemos tirar a casquinha?

Liliane: Não pode tirar casquinha não. Antigamente, a gente dizia assim que para cicatrizar a ferida tinha que formar aquela casca. E aí depois a ferida sarar, né? E a gente viu que as lesões, elas ficavam. Depois você tira aquela casca, tem todo um pus ali embaixo, né? Então a casquinha não se retira, toda ferida aberta a gente protege para não formar essa casquinha e manter esse tecido hidratado.

Assista a entrevista completa no nosso canal do Youtube:

Juliana: E como você se especializou nessa área?

Liliane: Eu me solidarizo muito com aquele paciente que estava com uma ferida ali, que estava em sofrimento. E que não é uma coisa assim, de um dia para o outro, né? Então, essa questão do vínculo, quando a gente trata a ferida física ali, a gente vai tratando as outras feridas que vêm junto, né? Isso me encantou, esse momento de estar ali, de estar ouvindo dos cuidados e de você. Visivelmente, a sua ação é agir, né? Claro que cicatrizar uma lesão não depende só do profissional. Mas de todo esse conjunto, de toda essa engrenagem funcionando a favor.