Juliana Farah: Empreendedora e pioneira na valorização da mulher no agronegócio - Juliana Rangel

Juliana Farah: Empreendedora e pioneira na valorização da mulher no agronegócio

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No universo muitas vezes dominado por homens do agronegócio, Juliana Farah se destaca trazendo não apenas sua expertise como produtora rural, mas também seu comprometimento em ampliar oportunidades para as mulheres que trilham o mesmo caminho

Nascida em solo paulista, de ascendência árabe, Juliana traz consigo uma história de superação e pioneirismo no campo, desafiando estereótipos de gênero desde a juventude. Empreendedora nata, ela não apenas fundou uma empresa de serviços com mais de duas décadas de existência, mas também desempenha um papel crucial como vice-presidente Semeadoras do Agro, uma comissão que tem revolucionado a representatividade feminina no setor rural de São Paulo.

Juliana Rangel: Você vem de família do campo, nasceu no campo?

Juliana Farah: Sim, eu venho de uma família do campo. Desde os meus avós, quando vieram do Líbano, já trouxeram propriedades, adquirindo terras na época para o cultivo de café. Meu pai deu continuidade nesta área. Na verdade, eu nasci na cidade de Bauru, mas minha família sempre teve propriedade rural.

Juliana Rangel: E você sempre teve esse lado empreendedor, né, Juliana?

Juliana Farah: Sempre, desde que eu morava no interior. Nasci em Bauru, mas fui criada em Birigui, onde meu pai tinha um curtume. Quando fui morar em São Paulo aos 17 anos, tinha muita vontade de viver na capital, mas era mais difícil naquela época. Meus pais acabaram permitindo que eu fosse fazer faculdade lá. Ao chegar em São Paulo, queria trabalhar, mas, como não tinha experiência, fiz um curso de datilografia.

Juliana Rangel: E na sua carreira empreendedora, hoje você possui uma empresa de prestação de serviços, né?

Juliana Farah: Sim, tenho uma empresa de consultoria há 23 anos. Abri essa empresa com o apoio do SEBRAE. Eles orientaram e até ajudaram na elaboração do meu contrato social. O SEBRAE é fundamental para quem está iniciando, preparando desde o básico.

Juliana Rangel: Além da sua empresa, você também está envolvida no setor do agronegócio e criou Semeadoras do Agro, certo?

Juliana Farah: Sim, exatamente. Eu sou produtora rural por sucessão dos meus pais e trabalho também com commodities. Semeadoras do Agro surgiu da vontade de fortalecer mulheres que não tiveram as mesmas oportunidades.

Juliana Rangel: Essa iniciativa veio após enfrentar muitos preconceitos?

Juliana Farah: Sempre enfrentei muito preconceito, assim como muitas mulheres. É preciso falar mais alto para ser ouvida e respeitada. Desde o início da minha vida empreendedora, tive que lutar para ganhar respeito, especialmente em um ambiente predominantemente masculino como o agronegócio.

Juliana Rangel: Como surgiu a ideia de criar Semeadoras do Agro?

Juliana Farah: A Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (FAESP) sempre apoiou a figura feminina. Criamos a comissão no ano passado, onde 15 mulheres, todas presidentes de Sindicatos de Produtores Rurais, uniram forças para fortalecer o empreendedorismo feminino no campo.

Juliana Rangel: E o que vocês realizaram nesse um ano e meio de existência?

Juliana Farah: Começamos com eventos e palestras, fomos convidadas para diversos encontros, percebendo a necessidade de criar módulos para levar conhecimento diretamente às mulheres. Nosso objetivo é trazer visibilidade e oportunidades de capacitação oferecidas pelo SEBRAE.

Juliana Rangel: Como está a participação das mulheres no agronegócio atualmente?

Juliana Farah: Do total de 5 milhões de estabelecimentos rurais no Brasil, 1 milhão são de mulheres proprietárias. Isso representa apenas 20%, o que é pouco. A participação feminina ainda é baixa, mas está aumentando.

Juliana Rangel: A internet tem contribuído para essa visibilidade?

Juliana Farah: Sim, a internet tem ajudado, mas precisamos melhorar a conectividade no campo. Acredito que, com o tempo, teremos mais mulheres visíveis no agronegócio.

Juliana Rangel: Nota-se diferença entre liderança masculina e feminina no agronegócio?

Juliana Farah: Sim, o setor ainda é predominantemente masculino. No entanto, temos figuras femininas de destaque, mas é necessário trabalhar para aumentar o número de mulheres em cargos de liderança.

Juliana Rangel: Qual o seu conselho para mulheres que desejam empreender?

Juliana Farah: Empreenda algo que você ame e tenha aptidão. Dedicação e amor são essenciais. Não encare o empreendedorismo apenas como uma busca por riqueza imediata, mas sim como a realização de seus sonhos.

Juliana Rangel: Quais os maiores desafios de ser empreendedora na sua visão?

Juliana Farah: Um dos maiores desafios é ser mulher e enfrentar preconceitos ao buscar recursos financeiros. Além disso, lidar com fornecedores e clientes pode ser desafiador, especialmente quando muitos maridos ainda têm dificuldades em permitir que suas esposas participem de encontros de networking.

Juliana Rangel: Você já sofreu muito preconceito com sua liderança no setor?

Juliana Farah: Sim, sofri e ainda sofro preconceitos por ser mulher, especialmente quando estou na propriedade. Às vezes, os funcionários não querem me respeitar por ser mulher.

Confira a entrevista completa no nosso canal do Youtube:

Juliana Rangel: De todas as suas interações com mulheres no setor, já ouviu confidências marcantes?

Juliana Farah: Sim, muitas mulheres compartilham histórias de violência, inclusive violência doméstica. Uma vez, uma mulher me contou que pensou em desistir da vida, mas após uma palestra minha, sentiu-se inspirada a seguir em frente. Isso me marcou profundamente.