Em entrevista, a estilista e renomada empresária Mariela Moreira fala sobre sua carreira - Juliana Rangel

Em entrevista, a estilista e renomada empresária Mariela Moreira fala sobre sua carreira

Compartilhe:

Na entrevista, a estilista revela o processo delicado de transformar ideias em vestidos que capturam a essência única de cada noiva. No quadro Boca no Trombone, ela revela noivas optando por usar cores além do branco

Mariela Moreira, estilista, graduada em Ciências Contábeis pela USP em Ribeirão Preto e em Design de Moda pelo Instituto Europeu de Design na filial de São Paulo. Possui curso de Moda Saint Martins em Londres. Abriu seu ateliê em São Paulo inicialmente e, em 2015, inaugurou também em Ribeirão Preto. Mariela conta que, embora tenha se dividido entre os dois ateliês, nos últimos tempos concentrou-se mais em Ribeirão Preto, onde o ateliê leva seu nome, Mariela Moreira Atelier. Seu foco é em noivas, mas também trabalha com vestidos para festas. Oferece coleções de vestidos para noivas pronta entrega, personalizados, minimalistas, entre outros. Todos os atendimentos são agendados e feitos de forma exclusiva para cada noiva.

Juliana: Você primeiro fez uma faculdade que não tinha nada a ver com moda.

Mariela: Sim. Eu fiz Ciências Contábeis na USP, né? Minha família tem muita gente da área de Finanças, eu estava dividido, pensando se ia para São Paulo já, agora com 17 anos. Prestei, passei e falei que vou fazer no último ano de faculdade, tive oportunidade de fazer um intercâmbio em Londres. E lá eu fui estudar moda, pensei, acho que é isso mesmo. Voltei, colei grau já com a faculdade de moda e me matriculei em São Paulo.

Juliana: Quando você percebeu a sua identificação com a moda?

Mariela: Ah, foi desde sempre, desde os nove anos de idade. Eu já brincava de ser estilista de noivas, sempre fui na área das Artes, tocava piano, desenhava, fazia pintura em tela, desenhos com grafite, todo tipo de aula de desenho. Eu fiz durante a minha infância e adolescência. Eu acho que eu fiz a contabilidade meio que para fugir do que era meu mesmo, sabe? É aquela coisa de a gente ter ido assim para outra área. Nunca nem atuei. Me abriu muitas portas com isso, muita gente, até o meu projeto do atelier, né, meu plano de negócios, eu usei muito do que eu aprendi na Faculdade de Ciências Contábeis.

Juliana: E o seu primeiro curso foi o de Londres. E como é que foi você ir para Londres? O que te despertou? Por exemplo?

Mariela: Eu acho que eu tenho a percepção de que em Londres a moda anda na rua. As pessoas lá vivem de uma forma um pouco mais aberta do que em outros lugares. É uma faculdade de moda. Lá é bem diferente de outros lugares, né? É muito livre, sabe, a criatividade rola muito solta. E aí eu queria ter essa experiência de sentir essa criatividade, ver a moda andar na rua, perceber isso, as pessoas são bem abertas para o que elas usam no dia a dia, as tendências. Estão realmente na rua. E acho que isso foi me despertando um desejo de ir, tinha vontade de estudar inglês. Acho que eu fui juntando tudo e acabei fazendo um curso em Londres que me abriu muito a cabeça, assim a gente falava muito de arte no curso, muito desenho com modelo ao vivo, que isso não vi em nenhum lugar numa faculdade de moda.

Juliana: Mas você sempre pensou em noivas no primeiro momento ou não?

Mariela: O desejo, na verdade, sempre foi de noivas, principalmente depois que eu comecei a estudar moda. Percebi que se você é estilista de uma grande marca, você tem algumas restrições na criação porque existem tendências, são as macro-tendências que vêm do mundo, as cores que serão usadas, os tipos de design, etc. Eu achava que teria mais liberdade de criação no universo de noivas, fazer algo mais personalizado. Eu gosto muito disso, de imprimir a personalidade da pessoa na roupa. Outra coisa que me motivava muito a trabalhar com noivas é como é o momento mais especial, é o vestido mais importante da vida de uma mulher. Eu estava participando desse momento e transformando a autoestima dela, ela se sente mais bonita através das minhas mãos. É um negócio que me motivava muito. Eu gosto das outras áreas da moda também. Cheguei a pensar durante a faculdade, mas essa coisa da Noiva era. Eu não consegui sair disso.

Juliana: A gente tá falando aí há praticamente 10 anos, né? O que mudou nesses 10 anos, Mari?

Mariela: Tem diferença. Tem muita diferença, até no estilo de atendimento, o tipo de peça que as noivas procuram. Em São Paulo, é muito raro você encontrar uma estilista que faz um sob medida de aluguel. Aqui em Ribeirão, é o mais comum, tanto que quando eu abri aqui no início, eu não fazia aluguel, eu só vendia vestidos. Percebi que o mercado não aceitava muito bem isso. Aí eu passei a fazer o primeiro aluguel. Aqui, eu acho que tem uma ideia de uma noiva um pouquinho mais sonhadora, que tem um pouco mais essa pegada do princesa, não é o estilo do atelier, aquelas princesas clássicas. Mas eu percebo que a noiva ainda permeia esse ambiente da princesa no imaginário. Em São Paulo, pelo menos o meu público em São Paulo são as noivas mais práticas, que querem uma coisa mais minimalista, mais clean. E eu acho que outra coisa que muda muito no atendimento de Ribeirão para São Paulo. Aqui em São Paulo, as coisas são mais difíceis, os ateliês são longos, você precisa de horário.

Juliana: Então, tipo assim, moldes prontos, digamos que você já use no seu atelier, porque a pessoa já está se identificando, por exemplo. Ah, se você quer um modelo tomara que caia, então você já tem esse molde. Aí, você vai deixando ela escolher o que ela quer mais, com a identidade dela.

Mariela: A gente vai trocando. Vamos supor que a gente esteja provando os tops para algum decote. Tomara que goste do tomara que caia, mantenha eu tomando café. Vamos trocar saias, e ela vai decidir se quer uma sereia ou princesa. Aí achamos o shape, e você não quer tomara que caia, é sereia. Agora, vamos colocar uma renda em cima, um detalhe, um tecido, e a gente vai fazer um vestido que é pré-moldado, mas depois a gente vai confeccionar sob medida a partir daquele que ela provou. Não tem aquela insegurança. Acho que é importante tirar essa insegurança e diminuir a chance de ansiedade da noiva durante o processo.

Juliana: Porque é diferente, hoje o tradicional primeiro faz um desenho, né? Ou seja, é aquilo que você falou. Às vezes, é difícil para leigos entender como aquilo vai ficar no corpo. Como você diz, você vai colocando na pessoa para ela já ir se enxergando e entendendo mais ou menos o que ela quer direcionar. Depois disso, você vai entrando na parte da personalização, né, da sua criatividade, do bordado, do acabamento, e aí você põe isso no papel.

Mariela: Sim, depois que a gente monta nosso atendimento, leva e mostra as diferenças. Eu levo ela para o provador, vou montar nela o vestido depois de voltar no vestido que eu vou desenhar. Aí ela vai entender o desenho. Vou colocar os detalhes, muito mais fácil de visualizar e entender, e ela já viu o vestido, um esboço de como está no corpo dela. Ela já sabe que aquele corte funciona para ela.

Juliana: Mari, o que mudou nesses anos todos que você está na área? O que as mulheres procuram?

Mariela: Acho que agora estamos numa onda minimalista, né? As mulheres cansaram um pouco da renda e do bordado exagerado, então estão buscando algo mais liso, com menos volume. Isso mudou bastante. Eu sempre gostei do conceito de menos é mais, e mantive uma coleção minimalista desde antes dessa onda. Agora ela está super em alta, acredito que isso foi a grande mudança.

Juliana: Se uma noiva chega e pede algo com muito destaque, você também tenta orientar, mostrar o que ficaria melhor?

Mariela: Sim, sempre coloco minha visão como estilista. Se ela veio até mim, acredito que confia no meu senso estético. Então, falo o que penso, e se for o sonho dela, respeito. O casamento é dela, é o sonho dela. Não posso tentar convencer a noiva de nada. Coloco meu ponto de vista como estilista, e ela decide.

Juliana: Qual é o tempo ideal para decidir sobre o vestido?

Mariela: Eu acho que 8 meses é perfeito. Não está tão longe do casamento, e não é muito perto. Mínimo de seis meses é ideal. Menos que isso, pode ser corrido para confeccionar, e há o risco de não conseguir o tecido desejado.

Juliana: A maioria segue esse prazo ou são de última hora?

Mariela: Tem de tudo. Tem noivas mais apertadas, mas a maioria segue esse prazo. A confecção pode levar tempo, especialmente se envolver tecidos importados. Às vezes, a confecção é deixada para mais próximo do casamento devido a possíveis mudanças de peso.

Juliana: Você já teve casos de noivas que decidiram tudo e, por conta do longo período, mudaram tudo perto do casamento?

Mariela: Eu só tive esse tipo de caso com a pandemia. A ansiedade é o que faz mudar, e isso aconteceu muito durante a pandemia, com trocas de vestido devido a mudanças nos horários e locais dos casamentos.

Juliana: Agora que você está do outro lado como noiva, como está sendo?

Mariela: É uma experiência diferente, estou entendendo melhor as expectativas e dificuldades. Está sendo uma boa experiência para lidar com as inseguranças e incertezas das noivas.

Juliana: Como escolheu o seu vestido?

Mariela: Tinha algumas ideias que permeavam minha mente há muitos anos, coisas que gosto. Já tinha referências guardadas. Estou casando para usar um vestido que sempre sonhei. Escolhi o local do casamento e nem ousei mudar, pois o vestido já estava decidido.

Juliana: O vestido tomara que caia sempre esteve na moda?

Mariela: Sim, é um clássico, não tem erro para qualquer estilo e biotipo. Mas é importante ter consciência, especialmente se tem muito busto, pois não terá alças. A estruturação é crucial.

Juliana: O que achou do vestido da Larissa Manoela?

Mariela: Gosto de vestidos lisos. O único erro foi o sapato, se o vestido é curto, o salto deveria ser fino.

Assista a matéria completa no nosso canal do Youtube:

Juliana: E a paleta de cores para as madrinhas?

Mariela: Essa tendência está caindo, mas muitas noivas ainda não aceitaram o direito. A escolha depende do nível de amizade e pode trazer problemas se não for bem pensada. Escolher uma paleta que fica harmônica nas fotos é fundamental.