Conheça a jornada de Mônica, finalista do MasterChef 60+ - Juliana Rangel

Conheça a jornada de Mônica, finalista do MasterChef 60+

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Mônica aprendeu a ler ao lado de suas avós, folheando os cadernos e livros de receitas dos patrões

Mônica, finalista da Edição 60+ do MasterChef Brasil e vice-campeã. Criada por sua avó e tias-avós não alfabetizadas, desde cedo ela se viu imersa na arte de cozinhar. Além de sua habilidade na cozinha ela já foi rainha de escola de samba, presidente e trancista afro, demonstrando sua versatilidade e sua capacidade de se destacar em diferentes áreas de atuação.

Juliana: Mônica, como foi que você acabou participando do MasterChef 60+?

Mônica: Estava em São Paulo para ajudar meu filho mais novo a se mudar para Portugal. Começamos a assistir ao programa e decidi me inscrever. Ele hesitou no início, mas eu estava determinada. Sempre quis participar do MasterChef, mas sempre havia algo que me impedia, fosse a idade ou outras razões. Decidi que era hora de seguir em frente. Ele me encorajou a me inscrever, e então começaram os testes e as entrevistas.

Juliana: Como foi receber a notícia de que você estava na edição?

Mônica: Muitas das receitas que enviei eram daqui de Ribeirão. Fomos gravando, mostrando e fiz várias entrevistas por vídeo chamada. Quando fiz uma farofa de pipoca, uma receita de família que faço desde que meus filhos eram pequenos, isso chamou a atenção. Morava perto da cava do Bosque, onde havia pipoqueiros. Quando sobrava pipoca, eles me davam e eu começava a experimentar misturando com diferentes ingredientes. A farofa de pipoca se tornou uma tradição. Então, quando apresentei essa receita, isso marcou os jurados e me ajudou a me destacar.

Juliana: Como é feita essa farofa de pipoca?

Mônica: Eu faço o processo de fazer pipoca e depois trituro no liquidificador. Hoje em dia é assim, no liquidificador. Então, adiciono bacon, calabresa ralada, cenoura, abobrinha, transformando a pipoca em uma espécie de farinha, semelhante à farinha de mandioca mais grossa. Assim, fiz essa farofa de pipoca.

Juliana: E como você recebeu a notícia de que estava oficialmente no programa? Eles te ligaram ou fizeram uma vídeo chamada?

Mônica: Eles me ligaram e me deram um prazo para estar em São Paulo, já que o programa é gravado em São Bernardo do Campo.

Juliana: Voltando um pouco à sua história, você sempre teve paixão pela gastronomia, com a culinária presente em sua vida desde a época de sua avó, que cozinhava muito bem, certo?

Mônica: A culinária entrou na minha vida de uma forma bastante peculiar. Tanto minhas avós quanto minhas tias avós não eram alfabetizadas. Quando comecei a aprender a ler, elas me levavam para ler os cadernos, livros e receitas dos patrões. Então, eu tinha essa responsabilidade de saber tudo, decorar e explicar, porque elas dependiam de mim. Agora, com a idade que tenho, percebo a aflição delas ao tentar ler algo e não conseguir.

Juliana: E quantos anos você tem atualmente?

Mônica: Tenho 69 anos.

Juliana: Você cresceu nesse universo da culinária por causa disso, né?

Mônica: Sim, sempre tive essa vontade de entrar nesse universo, mas elas sempre desencorajavam, dizendo que eu não seria cozinheira, pois a gastronomia não era vista com prestígio naquela época. Além de ser considerado um trabalho doméstico, elas diziam que eu sempre sairia pelos fundos, comendo comida fria, já que muitas vezes não podíamos comer antes. Mesmo assim, sempre gostei de cozinhar em casa.

Juliana: E o que mudou na sua vida depois de ser vice-campeã do MasterChef?

Mônica: Mudou tudo, principalmente o reconhecimento das pessoas. Na rua, muitas pessoas dizem coisas como: “Minha mãe estava isolada e ficou entusiasmada quando te viu, você nessa idade tendo essa coragem de dar a cara a tapa.” É literalmente dar a cara. O carinho das pessoas, inclusive das crianças, é incrível. Ainda estou muito impactada com tudo isso, porque é tudo muito novo.

Juliana: Você esperava esse carinho quando foi para o MasterChef e chegou até o final, né? E depois receber esse carinho, esse calor humano?

Mônica: Eu não tinha noção do tamanho disso. Fui pensando: “Ah, vou lá, participo e tudo mais.” Mas as pessoas me reconhecem na rua e vêm falar comigo. Estou me sentindo como se estivesse renascendo.

Juliana: Qual foi o seu maior desafio durante o programa?

Mônica: Olha, meu maior desafio durante o programa foi vencer as emoções. Havia momentos em que sentia uma responsabilidade enorme. Não é apenas a pressão, pois estou acostumada com pressão na vida, mas sim a responsabilidade de honrar minha ancestralidade, minha família. Para mim, era como se não pudesse errar, sentia uma cobrança interna muito forte. Minha avó sempre foi muito rigorosa comigo, e eu fui criada sem muitas concessões.

Juliana: Do que você está falando aqui, você é uma pessoa que se cobra muito, né? Talvez essa sua busca pela excelência tenha sido o que te trouxe para o programa?

Mônica: Sim, eu sempre busquei fazer o melhor. Mesmo quando os chefs gritavam, eu entendia que não era comigo diretamente.

Juliana: Dos chefs, com quem você mais se identificou e com quem você não se conectou tão bem?

Mônica: Eu me identifiquei com todos eles. Cada um dentro do que o programa exige, têm uma mistura de rigorosidade, carinho e compreensão. Depende muito do que a pessoa está sentindo. Alguns podem interpretar como mimimi, mas não era. Mesmo quando nos pressionavam, havia um acolhimento por trás daquela pressão, não era algo para nos derrubar.

Juliana: Tem alguma história inusitada que você lembra de ter vivenciado lá?

Mônica: Teve um momento em que estávamos em dupla, e a participante da Bahia, Cida, me escolheu para fazer uma moqueca de banana da terra com peixe. A cada 10 minutos, trocávamos de função. Em um desses momentos, íamos fazer uma farofinha de camarão. Pegamos uma farinha feita de camarão, experimentei e não senti o sabor. Então, virei para ela e disse: “Nossa, acho que o camarão ficou lá no mar”. Foi engraçado porque não podíamos falar mal dos produtos devido aos patrocinadores, mas não falei que a farinha não era boa, apenas comentei sobre o camarão. Foi um momento divertido, todos acharam engraçado falar sobre o camarão no mar.

Juliana: E agora, pós-programa, de volta a Ribeirão Preto. Quais são seus planos?

Mônica: Olha, tenho planos todos voltados para a culinária, para essa área. Agora, que entrei de cabeça na culinária, quero fazer um curso de gastronomia para vivenciar isso na prática. Além disso, tenho o desejo de ter uma cozinha e oferecer uma comida voltada para a ancestralidade, resgatando receitas perdidas. Hoje em dia, vemos muitos restaurantes de diferentes culturas, o que é ótimo, mas gostaria de resgatar a culinária do início do Brasil.

Assista a entrevista completa no nosso canal do Youtube:

Juliana: Você já sofreu preconceito, Mônica?

Mônica: Nossa, demais! Para mim, enquanto houver ignorância, haverá intolerância. E isso não vai acabar tão cedo. Então, precisamos aprender a conviver com ela. Foi o que sempre fiz na minha vida, conviver com a intolerância. Porque ela não vai embora.