Encerramento de Colégio Metodista faz Babete Nassif chorar - Juliana Rangel

Encerramento de Colégio Metodista faz Babete Nassif chorar

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Com 122 anos de existência, o colégio Metodista de Ribeirão Preto se tornou uma das escolas locais mais tradicionais e procuradas, entretanto,  em Janeiro deste ano, pais, alunos e cidadãos foram pegos de surpresa com o anúncio do encerramento das atividades do grupo na cidade.

Segundo o Grupo Metodista, mantenedor da escola, o fechamento deveria acontecer de forma imediata, devido a crise financeira que o grupo enfrentava desde 2015, quando houve uma redução significativa no número de alunos, o que impactou fortemente a receita geral do grupo.

Muitos pais e crianças ficaram assustados com a decisão repentina, por isso o colégio prestou todo apoio escolar e administrativo às famílias e aos alunos, para que nenhum deles tenham problema no ano letivo e para que possam prosseguir com os estudos em outras instituições.

Além dos pais e alunos, funcionários e ex-funcionários também foram impactados com essa notícia, como é o caso da antiga diretora do colégio, Babete Nassif, que ficou à frente da instituição durante 13 anos e realizou grandes feitos no colégio.

Babete Nassif foi convidada do Podcast Pode Mulher

Após passar 45 anos atuando na área da educação, Babete sentiu que era hora de encerrar um ciclo e decidiu sair da direção do Colégio Metodista em 2017. Para falar um pouco mais sobre sua trajetória, seus acertos e reconhecimentos, a professora participou do Pode Mulher, podcast voltado para o público feminino. Confira uma parte da entrevista:

Juliana Rangel: Babete, como você recebeu a notícia sobre o fechamento do Colégio Metodista?

Babete Nassif: Eu tenho uma amiga que trabalhou 40 anos no Metodista. Ela foi a minha assessora pedagógica, me ligou e disse “você não sabe o que está acontecendo”. Eu fiquei sabendo antes. Foi uma coisa que assim, eu acho que já estava me preparando, porque eu encontrava algumas mães e elas sempre diziam “ai, Babete, eu tirei da escola, não dá. Colocaram essa diretora nova e não está dando certo” e eu sempre falava, “não, essa diretora é boa, ela tem formação, é metodista”, sempre resgatando a coisa boa dela, mesmo sem conhecer.

Conforme o colégio foi perdendo aluno, eles também foram dispensando. Os projetos da escola, eu tinha um coral que todos queriam, tinha projeto de dança, karatê, tudo foi saindo.. foi entrando uma fase muito triste, mas eu achei que haveria um respiro.

Nunca imaginei que iria fechar, eu via as outras escolas do grupo com alguns problemas há muito tempo, mas não me passava pela cabeça que Ribeirão, uma escola centenária poderia fechar. Nos meus discursos, eu falava muito sobre a história do Metodista… eu comparava a escola com o  Carvalho, uma árvore que não tomba. Eu até me emociono. Fui muito feliz no Metodista, muito mesmo. Eu fiquei muito chateada com tudo o que aconteceu, como aconteceu, mas não foi Ribeirão, foi a rede. Aqui infelizmente respingou.

Juliana Rangel: Você chegou a receber algum convite para voltar a trabalhar desde que saiu do Metodista, Babete?

Babete Nassif: Olha, esse é um cargo que quando você atinge, amedronta as pessoas, porque é um cargo de comando, né? As escolas, quando você está nesse cargo, ficam meio receosas, porque não sabem quanto você recebia, quanto vão te pagar, mas eu recebi convites para voltar sim, de duas escolas.

Há um mês e pouco eu tive um chamado, de uma escola que estava tentando ser levantada, mas estava enfrentando algumas barreiras e não conseguia autorização com o Ministério Público. Eu tinha contato com uma pessoa, que conhecia o pessoal que estava tentando montar essa escola e ela falou “olha, eu comentei de você com eles, Babete, e eles querem que você vá lá urgente.”

Eu olhei e falei “nossa, o que está embargando essa escola?” e eu fui conversar com eles. Quando cheguei lá, vi que havia algumas coisas nessa escola e a pessoa que entrou contra a criação dela era uma pessoa que eu já tive contato… foi aí que eu pensei “gente, eu vou brigar com ele? Quem sou eu para fazer isso?”. Na hora eu empolguei, principalmente porque foram 100 alunos do Metodista para essa escola, mas depois tiveram que ir para outras.

Juliana Rangel: Por que você decidiu seguir carreira na educação?

Babete Nassif: Eu vim para Ribeirão Preto porque meu irmão estava se mudando por causa dos estudos. O meu pai tinha uma filosofia que era “não vão para o comércio! Tem que estudar. O estudo ninguém te tira, as heranças vão embora, mas os estudos ninguém te tira.”

Eu cresci ouvindo isso, e depois passei para os meus alunos (risos). Então eu acho que assim, uma das coisas que me levaram para a educação foi a questão dessa fala do meu pai, da importância dos estudos.

Juliana Rangel: Você se mudou para Ribeirão então? De onde você é?

Babete Nassif: Eu sou natural de Brodowski. Eu brinco que lá é a cidade das pessoas famosas, menos eu (risos). As pessoas às vezes vão para fora do Brasil para ver grandes obras e esquecem que tem aqui pertinho a cidade do Candido Portinari, por exemplo, mas elas não vem para cá.

Inclusive, o meu pai era amigo do pai dele, e o Portinari queria pintar o meu pai. Ninguém se conformou com isso na família, mas ele queria. Por ser uma pessoa estrangeira, um árabe, ele tinha um nariz adunco e dizia “se um dia eu operar, eu deixo você me pintar”.

Juliana Rangel: Nossa, isso seria uma obra de arte para a família! Na época, por que ele não deixou fazer a pintura?

Babete Nassif: Porque ele tinha complexo! Ele falou “não, não posso”… acho que o Portinari queria fazer uma série de estrangeiros, mas meu pai não aceitou. Ninguém da família se conformou.

Confira abaixo a entrevista completa no Podcast Pode Mulher: